Memória política

Publicado Segunda-feira, 6 Agosto, 2012 . 6:10 hs
Por Equipe D24AM

Artigo de Wilson Nogueira, jornalista.
E-mail: nogueira.wilson@uol.com.br


A Câmara de Vereadores e o Instituto Memorial de Parintins, por meio de parceria, lançaram, na última quinta-feira, o primeiro volume impresso, de uma série de cinco, do projeto História e Memória Política do Município de Parintins. Trata-se de um feito que precisa de alarde, porque são raras as ações públicas que realçam a memória política como importante ao aprimoramento das relações socioculturais. Imagino que o descaso não seja à toa. Os “homens ditos públicos”, diferentemente dos homens públicos, estremecem diante da possibilidade de se ver frente a frente com seus desmandos, hipocrisias e incoerências.
É louvável que os vereadores parintinenses tenham tomado essa iniciativa. De imediato, construíram um meio de conhecer, profundamente, a história da instituição que representam. Logo, poderão dar mais valor e mais importância a ela e às suas funções. Diante do passado, poderão reafirmar os acertos e evitar os erros. A nenhum vereador será mais dado o direito de dizer que desconhece a história da casa que lhe abriga como representante do povo. Ao menos em Parintins.
Há outros benefícios que precisam de realce, como a transparência, a valorização de profissionais locais, vontade de socializar conhecimentos locais contextualizados na história regional, nacional e mundial. O projeto prevê, além dos livros, a disponibilidade dos resultados da pesquisa e dos documentos pesquisados, principalmente os registros em atas, na rede mundial de computadores. Pratica-se, com essa medida, a tão exigida transparência dos atos públicos dos servidores pagos pelos contribuintes. Essa decisão vem ao encontro da transmissão, via rádio e internet, das sessões da Câmara.A restauração, catalogação e pesquisa dos arquivos foram realizadas por restauradores, historiadores, geógrafos, químicos e comunicadores sociais formados nas unidades da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e da Universidade do Estado do Amazonas (UEA). Reconhece-se, assim, que um trabalho de alta complexidade só poderia alcançar o êxito desejado se executado por uma equipe de conhecimento científico interdisciplinar. O Ensino Superior, cada vez mais exigido no interior do Amazonas, responde nesse e noutros empreendimentos por que é indispensável como fator de desenvolvimento humano. Grupos de profissionais, organismos públicos, iniciativa privada e terceiro setor podem ser estimulados a realizar outros projetos de igual dificuldade com mão de obra local.
Os realizadores do projeto assumem o compromisso de disseminar os seus resultados – livros, cartilhas, folhetos, CDs, DVDs e demais produtos culturais – nas escolas e unidades acadêmicas do município, para que, socializados, estimulem as novas gerações a conhecer a história do município e a participar das suas preocupações coletivas. Os arquivos do Legislativo guardam fatos e acontecimentos que dizem, certamente, a respeito da existência de cada um dos munícipes. Afinal, só amamos aquilo que conhecemos ou amamos cada vez mais aquilo que conhecemos cada vez mais.
Vislumbro, nesse projeto, o primeiro passo rumo à sensibilização dos gestores públicos para o fato de que a sociedade precisa se reencontrar com a vontade coletiva de reconstruir ou construir instituições fortes e inclusivas. Com efeito, para rememorar a advertência dos historiadores, é urgente explicar que o legislativo acumula versões e visões particulares de uma totalidade que se inscreve nas mentes e corações de cada um dos moradores de cada lugar. Logo, é imprescindível que outros segmentos sociais sejam ouvidos em pesquisa de igual valor e reconhecimento.
Por outro lado, esse projeto pode alargar a visão do poder público para a importância da memória e da história como política pública de desenvolvimento social e econômico. Elas articulam, com maior densidade e intensidades, os valores das tradições e das identidades locais, fundamentais para um diálogo cultural, nas sociedades do ciberespaço e da transculturalidade real, sem subjugo.
Fonte: Diário do Amazonas

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